A geração on demand
Já há bastante tempo que queria escrever este post e partilhar convosco o que se passa a maioria das vezes lá em casa. Até porque acredito que se passa o mesmo nas vossas casas, pelo menos quem tenha filhos com a idade do Duarte, os “terríveis e adoráveis” 4 anos.
Eu sou do tempo em que haviam 2 canais de TV, o canal 1 e o canal 2, em ambos davam os desenhos animados (alguns giros, divertidos e inesquecíveis) mas também havia muita publicidade. E por vezes os blocos publicitários demoravam décadas, mas nós tinhamos que aguentar. Não havia forma de parar, de passar à frente ou de fazer alguma coisa. A publicidade passava e na maioria das suas vezes até era divertida, principalmente na altura do natal e do aniversário, pois era sem dúvida um catálogo virtual dos melhores brinquedos que poderíamos pedir e quem sabe ganhar. Lembro-me de ter visto os primeiros anúncios da “Barbie”, quando ainda nem haviam cá em portugal à venda; o anúncio “Fantasias de Natal “... coelhinho, com o Pai Natal, e com o palhaço no comboio ao circo”; do “Tragabolas”; da boneca “Cindy”; dos “Pin y Pon”, dos “My Little Poney”... No nosso tempo, víamos os anúncios e aguentávamos. Que remédio. Mas dava perfeitamente para brincar mais um bocadinho durante os anúncios.
A geração do Duarte, o D do meio, que tem 4 anos, é On Demand. Tudo o que ele vê na televisão é a pedido. Nada do que passa em hora real o Duarte quer ver. Para ele não é normal, ver o que está a dar em direto, ver os anúncios é tortura, a menos que tenha música animada... E o mesmo se passa no iPad, onde o Youtube tem de estar sempre aberto e com o menu vertical lateral bem vísivel para ele mudar de acordo com o seu gosto ao segundo. Fomos nós que os criámos assim e somos nós que os estimulamos desta forma. Tudo em prol do tempo e da gestão caseira, e da malfadada rotina. Mas dá-me cabo dos nervos, deixá-lo no sofá a ver os Pj Masks, ou Patrulha Pata e passados 10 minutos já estou a ouvir o Duarte irritado e aos gritos a chamar: “Mãe, Pai, por favor quero ver mais, já acabou”... e apesar de lhe dizer tantas vezes para o Duarte ver o que está a dar na TV ele responde: “Mas isso eu não gosto, mamã”. E de novo, vamos ao menu, à pesquisa e vemos os mais procurados... o que acontece muitas vezes é que os episódios já foram vistos!
Para o Duarte e para esta geração de crianças a informação e o entretenimento estão permanentemente disponíveis em qualquer lugar e em qualquer altura. Aliás, se formos almoçar fora e o restaurante não tiver Wi-Fi e nenhum de nós tiver dados móveis, como é dificil explicar-lhe que não pode ver os “PJ Masks”, as “Tartarugas Ninja” ou o mais recente episódio dos “Patrulha Pata”. Doí, não doí, explicar-lhes isto?! Estas crianças têm que sentir que controlam o ambiente em que estão inseridos, têm que obter informação de forma fácil e rápida e têm que estar aptos a ter vidas menos estruturadas. A internet é para eles como o ir ver as luzes de natal à baixa era para nós.
Os meus filhos são todos desta geração. Na geração em que a internet é indispensável, um bem essencial e no mesmo nível de necessidade como a água, a eletricidade e o gás. Os nossos filhos crescem num mundo digital e estão, desde sempre, familiarizados com dispositivos móveis e comunicação em tempo real, como tal são um tipo de consumidores exigentes, informados e com peso na tomada de decisões de compra. São a primeira geração verdadeiramente globalizada, cresceram com a tecnologia e usam-na desde a primeira infância. A Internet é, para eles, uma necessidade essencial e, com base no seu acesso facilitado, desenvolveram uma grande capacidade em estabelecer e manter relações pessoais próximas, ainda que à distância. A tecnologia e os dispositivos móveis (tablets e smarphones) em particular, criaram condições para esta geração se conectar e comunicarem entre si como nenhuma outra geração o tinha feito anteriormente, permitindo partilhar experiências, trocar impressões, comparar, aconselhar e criar e divulgar conteúdos, que são o fundamento das redes sociais.
Resta-nos esperar que a internet seja evolutiva e saudável, tal como os nossos filhos devem ser. O on demand depressa vai expirar e surge um novo hábito e tendência. Aí, certamente a geração seguinte irá adequar-se e evolver de acordo com as mudanças...
"Evolve means to change over time."